sexta-feira, 27 de março de 2009

"Apagão" de sábado pode "perturbar segurança da rede" eléctrica

"Hora do Planteta" vai notar-se em três mil cidades do Mundo, em protesto contra as alterações climáticas.

O presidente da empresa que gere as redes de transporte de electricidade em Portugal, a REN, admitiu à Lusa que que o apagão global organizado para sábado pela WWF "pode ser perturbador da segurança da rede".

O presidente da REN, José Penedos, adiantou que a iniciativa "Hora do Planeta", que tem como objectivo um apagão de uma hora em 3.000 cidades contra as alterações climáticas, pode "provocar instabilidade de transporte da energia eléctrica a nível europeu".

Em Portugal, que pelo primeiro ano adere oficialmente à iniciativa do Fundo Mundial para a Natureza (WWF - World Wildlife Fund), serão sete as cidades envolvidas no apagão: Lisboa, Tomar, Águeda, Vila Nova de Famalicão, Funchal, Almeirim e Guimarães.

O presidente da REN explicou que "teoricamente, se houver uma grande adesão, poderá haver alguma perturbação da rede" em Portugal, mas ressalvou que a a empresa "está preparada".

"Isto pode tornar-se um problema global, já que teremos que estar atentos às redes europeias transfronteiriças", acrescentou o mesmo responsável.

Penedos, que disse ter alertado a WWF para as suas preocupações, afirmou ainda que a REN "tem consciência do que pode acontecer, até porque já há um historial sobre iniciativas desta natureza".

As preocupações da REN (Redes Energéticas Nacionais), a empresa que gere as concessionárias de serviço público de transporte de electricidade, resultam do funcionamento dos geradores que colocam a energia da rede, que têm de estar equilibrados com o consumo.

Quando não há consumo, a energia injectada na rede está em sobrecarga, o que pode destruir os pontos de rede.

Ou seja, para evitar a destruição dos pontos de rede quando não há consumo - e de forma súbita, como por exemplo num apagão - a REN tem de baixar de imediato a produção dos geradores.

Os problemas de gestão de rede avolumam-se a partir deste momento, uma vez que mesmo que a REN baixe a produção dos geradores estes não respondem de forma instantânea.

Partindo do princípio que depois do protesto ninguém vai ligar as luzes ao mesmo tempo, a resposta da REN será a de colocar os geradores que ligam e desligam mais rápido para ter uma resposta também mais rápida.

Por outro lado, a empresa que gere as redes em Portugal vai igualmente precisar da ajuda da Europa, para que se houver um excesso de energia na rede se possa recorrer à rede europeia eléctrica para absorver esse excesso.

Nos cálculos da REN para este protesto surge um outro dado: o grande consumo de electricidade em Portugal vem da indústria e essa não deverá parar.

Uma porta-voz da WWF Portugal, Ângela Morgado, disse à Lusa que "a REN não alertou a organização" para estes eventuais problemas.

"Quando lançámos a iniciativa em Portugal, marquei uma reunião com EDP, que disse que desde que haja informação, desde que todas as entidades soubessem desde o inicio do apagão, haveria um ajuste da rede, proceder-se-ia à projecção de um consumo menor nessa noite e que a situação seria minimamente controlada", explicou.


http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1182312




quarta-feira, 25 de março de 2009

Atribuição de incentivos à compra de painéis solares "é uma fraude"

O autor da política energética do actual Governo, Oliveira Fernandes, classificou como "uma fraude" a atribuição de incentivos à compra de painéis solares fotovoltaicos como sendo produtores de energia solar.

"Estar a utilizar as verbas que foram anunciadas para a energia solar como incentivos para a compra de painéis fotovoltaicos é uma fraude", disse à agência Lusa Oliveira Fernandes, professor da Faculdade de Engenharia do Porto e presidente da Agência de Energia do Porto.

Oliveira Fernandes acusou a empresa Energie, cuja fábrica na Póvoa de Varzim foi visitada quinta-feira pelo primeiro-ministro, José Sócrates, de estar a fazer "publicidade enganosa", ao referir no seu site que os painéis solares fotovoltaicos têm rendimento superior aos colectores solares.

"O site diz que o sistema deles funciona com sol, céu nublado, chuva e à noite. Vê-se logo que não é solar. É por isso que tenho vergonha deste país", afirmou Oliveira Fernandes, criticando José Sócrates e o ministro da Economia, Manuel Pinho, por se terem associado ao "embuste" da Energie, ao apelarem aos portugueses para que comprem os seus painéis.

"O lapso político do senhor primeiro-ministro e do senhor ministro da Economia acontece manifestamente por falta de competência técnica no Governo, por falta de assessoria, aconselhamento", afirmou o ex-secretário de Estado da Energia.

Na opinião do professor universitário, a Energie "é uma fábrica de bombas de calor", dado que os painéis que produz "até podem captar calor da água ou do solo".

Oliveira Fernandes salientou que o coeficiente de performance (COF) dos painéis da Energie "deverá andar à volta de dois, o que é um valor ridículo".

O especialista explicou que a bomba dos painéis fotovoltaicos necessita de electricidade para funcionar, produzindo em média apenas o dobro da energia que consome.

"Muitos dos colectores solares também precisam de uma bombinha. Mas, em média, a energia que captam do Sol é 50 vezes superior à que consomem. A relação é de dois para 50. Não estamos a falar do mesmo campeonato", frisou.

Oliveira Fernandes realçou que, dadas as características climatéricas do país, "são os colectores solares que interessam a Portugal", e não os painéis fotovoltaicos, mais adequados a países frios do Norte e centro da Europa.

Em comunicado distribuído hoje, a Energie garante que os seus painéis solares "estão certificados pela SolarKeymark, a primeira marca de qualidade reconhecida internacionalmente para os produtos solares térmicos, e DINGetpruft, atestadas pelo organismo alemão mundialmente conhecido Dincertco".

"Estas certificações atestam o produto da Energie como sistema solar térmico", realça a empresa, anexando cópia de um dos certificados.

Oliveira Fernandes argumentou que o certificado atribuído à Energie "não é nada do que estão a comercializar", mas fonte da empresa garantiu à Lusa que "os painéis que a Energie vai vender com base no protocolo assinado com o Governo são certificados como sistema solar térmico".

O primeiro-ministro apelou segunda-feira à compra de painéis solares pelos portugueses, no âmbito do programa do Governo de incentivo ao uso de energias renováveis, destacando o impacto positivo que terá na economia a vários níveis.

"Se [os portugueses] querem dar um bom contributo para, em primeiro lugar, reduzirem a sua factura energética e gastarem menos dinheiro com o aquecimento da água, se querem dar um contributo para o seu país, para haver mais emprego e mais dinamismo económico, por favor instalem painéis solares nas suas casas, aproveitem este programa do Governo", afirmou José Sócrates durante uma visita à empresa produtora de painéis solares termodinâmicos Energie, na Póvoa de Varzim.



IN JN 25/MAR/2009

Especialistas de energia denunciam "embuste" na visita de Sócrates e Pinho à Energie

A visita de José Sócrates e de Manuel Pinho às instalações da Energie para assinalar a segunda fase de expansão da fábrica que produz o que designa por "painéis solares termodinâmicos" está a desencadear uma série de protestos por parte dos principais responsáveis pela investigação e indústria solar no país.

"É uma empresa que assenta a sua propaganda num embuste", denuncia Eduardo Oliveira Fernandes, ex-secretário de Estado da Energia e académico que desenhou a política energética do actual Governo, no que é acompanhado por Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal e presidente da Sociedade Portuguesa de Energia Solar (SPES), e por Manuel Collares Pereira, considerado um dos principais especialistas em energia solar no país, ex-investigador do INETI e responsável pela empresa fabricante de painéis solares térmicos Ao Sol. Os três especialistas clamam que o produto da Energie, fabricado na Póvoa de Varzim, é "publicidade enganosa" - mostram tratar-se de uma bomba de calor accionada a electricidade com apoio secundário em energia solar e não de um painel solar térmico - e atribuem o incentivo político do primeiro-ministro e do ministro da Economia, com a visita efectuada, a uma possível ausência de apoio técnico adequado pelos respectivos gabinetes.

Também a associação ambientalista Geota se associa às críticas. "A pretexto de vender energia solar, [a Energie] vende mais electricidade", diz Manuel Ferreira dos Santos, um dos responsáveis da organização, que equipara o funcionamento do sistema da Energie a um "frigorífico ao contrário" que continua a ser alimentado por energia eléctrica, não solar, restando o que diz ser uma "acção de marketing bem conseguida".

Os especialistas referidos sublinham que a tecnologia da Energie "não está em causa" enquanto bomba de calor. "Sendo eficiente" e uma tecnologia conhecida há mais de duas décadas, frisam que esta "não é energia solar".

Ontem, na visita dos dois governantes à fábrica, o presidente da Energie, Luís Rocha, que se tem batido pelo reconhecimento do seu produto como tecnologia solar, era um homem satisfeito, ao revelar que a empresa foi considerada parceira do Governo no programa de apoio à instalação dos painéis solares térmicos. Esta inclusão permite à Energie aproveitar a onda de incentivo ao sector solar térmico em termos de mercado e aceder a apoios majorados. Um reconhecimento formal como tecnologia solar terá, no entanto, de passar por outras instâncias, nomeadamente a Comissão Europeia, com os especialistas a admitirem que Bruxelas chumbará a ideia.

Os chamados painéis solares termodinâmicos na origem da discórdia usam o mesmo princípio dos frigoríficos, mas ao contrário. Ou seja, enquanto um frigorífico usa o condensador (grelha nas traseiras) e o evaporador (chapa no interior) para arrefecer o ar interior do aparelho aquecendo o de fora (a grelha preta traseira está normalmente a uma temperatura superior à temperatura ambiente), a tecnologia da Energie usa o mesmo condensador e evaporador, com recurso a electricidade, para aquecer a água (podia ser ar). O painel colocado no telhado funciona como evaporador: recebe a temperatura do ar ambiente exterior, que se junta à energia produzida pelo equipamento, contribuindo para aumentar a sua eficiência.

Em relação a equipamentos congéneres de aquecimento térmico a electricidade, estas bombas de calor de água são consideradas mais eficientes. Do ponto de vista técnico, o sistema da Energie é classificado fora da energia solar, dado consumir 10 vezes mais energia eléctrica do que um colector solar térmico.

IN PÚBLICO
24.03.2009 - 08h53
Por Lurdes Ferreira com Ângelo Teixeira Marques

domingo, 22 de março de 2009

Productivity Future Vision

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